Casamento & Prejuízo por WALCYR CARRASCO

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Casamento & prejuízo


Walcyr Carrasco (Foto: reprodução)
Quando era menino e vivia em Marília, no interior de São Paulo, certa vez os noivos desistiram do casamento 20 dias antes da cerimônia. Além das fofocas que povoaram a imaginação de minha mãe e suas amigas intensamente, a família da moça devolveu todos os presentes recebidos em nome do casal, enviados para seu endereço. Foi um trabalhão. Se não fizesse isso, os mexericos seriam ainda maiores. Hoje em dia, surgiu uma nova modalidade de desistência. São as pessoas que se casam várias vezes e, em todas as ocasiões, os convidados têm de oferecer presentes! Quando vem a separação, nem se pensa em devolver. Vira patrimônio.

Quem tem muitos amigos, como eu, sabe que isso se traduz num rombo na economia pessoal. Um ator famoso casou neste fim de semana: Marcelo Serrado com Roberta Fernandes. Segundo me declarou, nunca se casou antes, embora tenha mantido uma relação estável com a atriz Rafaela Mandelli, com quem teve uma filha, Catarina. Está felicíssimo. Outro dia comentou, entusiasmado, que fulano deu isso, sicrano enviou aquilo. É claro que Marcelo tem casa montada. Os presentes dão um upgrade. Fico feliz em presentear um amigo. O problema é o número de cerimônias! Já que hoje em dia separações são frequentes, o número de matrimônios aumentou demais.

Os novos tempos exigem também uma nova etiqueta. Uma ideia: quem se casa novamente não deveria mandar o aviso com o nome das lojas onde estão as listas de presentes. Aliás, nem deveriam fazer essas listas. Seria mais elegante um aviso do tipo: “Venha de mãos vazias. Os presentes do último casamento estão sendo reaproveitados”. Ou, como sugeri a um amigo, os noivos é que deveriam presentear os convidados, como faziam sultões no passado. Em nome do quê? Da paciência em ouvir tantas vezes que desta vez é “para sempre”. Opa! Friso bem: não falo do Marcelo, que se casou oficialmente só esta vez. Seu casamento me despertou essa reflexão sobre os novos tempos. Conheci um jornalista que se casou em todas as religiões disponíveis, para contentar as famílias das noivas. Outros usam artimanhas, como convencer um padre a dar a bênção, já que a Igreja Católica não une divorciados. Dá a impressão de que é um matrimônio igual aos outros, já que o padre está lá. Se os anjos do céu uivam de revolta com o truque, ninguém ouve.
Fico feliz em presentear um amigo. O problema é que, com tantas separações, aumentou o número de cerimônias 
Se me convidam para padrinho, fujo! Quem é padrinho tem de dar presente melhor, pelo menos é o que todo mundo pensa. Principalmente os noivos, que costumam convidar um exército de padrinhos, que se amontoam no altar, num empurra-empurra semelhante ao horário de pico no metrô. O último casamento a que compareci como padrinho foi o do apresentador Rodrigo Faro. Ainda bem que ele continua feliz com a Vera. Na época, compareci com a máquina de lavar roupa. Hoje em dia, do jeito que ele ganha bem, se casasse de novo, seria sofrido dar algo a sua altura. E o meu personal trainer, Igor? Quando se casou, no final do ano passado, lhe ofereci uma adega climatizada. Quis agradecer seus esforços para me manter esbelto. Separou-se poucos meses depois. Eu nem havia acabado de pagar o presente, dividido em seis vezes sem acréscimo!

Os noivos não são safados. Só rápidos. Muitos, principalmente no meio artístico, fazem questão de tatuar o nome da amada ou amado no braço, na perna, no peito... É uma prova de que o desejo de uma união eterna existe. Só que, dali a algum tempo, se separam.
Quando iniciam um novo relacionamento, vem o ciúme:
– Que esse nome está fazendo aí?
Apagar tatuagem é muito difícil. Tratam de disfarçar, inventam um novo desenho em cima. Surge uma nova questão:
– Se você tatuou o nome dela, tem de tatuar o meu.
– Claro, meu amor. É para sempre.
De “para sempre” em “para sempre”, o sujeito fica todo rabiscado. Ou com uns desenhos estranhos espalhados pelo corpo. A pele, igual a um tapete persa.
Mas e nós, que temos de desembolsar? Com tantos amigos casando e recasando, pensei até em montar um consórcio. Cada par ganharia uma senha, a ser sorteada algum dia. Também tentei a estratégia de oferecer sempre o mesmo presente: o livro de receitas Dona Benta. Seria uma marca pessoal. Desisti quando uma noiva me avisou:
– Olha, nem eu nem ele gostamos de cozinhar.
Resolvi. Quando alguém se casa novamente, não dou mais presente. Assumo a cara de pau. Quando alguém me convida, costuma avisar:
– O melhor presente é sua presença.

De agora em diante, vou fingir que acredito.
FONTE: REVISTA ÉPOCA 

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